Precisávamos atravessar uma enxurrada meio grande, ela
atravessou confiante e eu permaneci parada, com medo de atravessar e cair no
meio daquela água barrenta. Só Deus sabe o que poderia estar escondido lá
dentro. Tenho as pernas curtas, poxa! Imagina se eu caio e me ralo toda? Mil e uma tragédias diferentes passavam pela minha mente.
Ao virar-se e me ver parada com uma expressão assustada, ela
me olhou com aquele olhar maternal que usa quando eu tenho medo e disse:
- Vem, Ismália, você não vai cair!
Eu fui e não caí. Encontrei com ela do outro lado. Estávamos
do mesmo lado agora, uma do lado da outra, como sempre foi.
Nossas palavras possuem o poder de abençoar e amaldiçoar,
principalmente aos que estão próximos de nós. Na verdade, eu precisava apenas
de um estímulo, apenas de alguém pra me dizer que eu tinha capacidade e que
tudo ia dar certo. Naquele momento, a voz dela soava como um empurrão, que me
levou em segurança ao outro lado.
Naquelas poucas palavras, ela demonstrava o carinho que
sentia por mim, mesmo inconscientemente. Os anos de amizade nos fazem engolir
algumas palavras, talvez porque pensamos que os amigos são eternos, uma pena
que não. Mas podemos dar provas sinceras de amor pelas nossas atitudes e essas sim,
valem mais do que qualquer tesouro. Ela poderia ter atravessado e ido embora, mas me esperou ali e me encorajou a atravessar. As palavras, o vento leva, as atitudes
ficam registradas no coração.