Você chega em casa cansado do trabalho e liga a TV pra relaxar. Tá passando o jornal, você assiste. Durante o jornal, são apresentadas inúmeras notícias ruins: fome, miséria, desastres naturais, impostos mais caros, violência, revoltas populares, injustiças... e no final, como a cereja deliciosa por cima do bolo sem gosto, é apresentada uma notícia sobre futebol. Seu time venceu mais um jogo. "Êba", você diz. Mas o vazio dentro de você não diminui.
Daí você decide ver um filme pra fugir um pouco da realidade, um romance. E descobre que o final é uma tragédia: a mocinha morre, o mocinho fica velho e sozinho. A música triste durante os créditos ao final do filme faz você querer morrer, mas você não se dá por vencido.
Levanta do sofá e vai até a cozinha, na esperança de encontrar qualquer besteira pra comer. Doce ilusão, não tem nada. Nada que você queira. E talvez essa comida nem exista no mundo real, mas na sua cabeça existe... e o seu estômago quer. Você desiste, volta para o sofá com cara de derrota e se sentindo a pessoa mais inútil da face da terra. E a fome faz o buraco dentro de você crescer consideravelmente, agora fazendo mais sentido e doendo de verdade.
Você olha pro relógio desanimado, são quinze para a meia-noite e você não tem forças para caminhar até o quarto. Solução: você dorme no sofá mesmo. Suado, cansado, torto e descoberto. Acorda atrasado, dolorido e babado, toma um banho gelado pra acordar direito e come a primeira coisa que encontra pela frente sem se importar com o mal que vai fazer lá dentro do seu estômago, porque "o que os olhos não vêem, o coração não sente".
Antes de sair, é claro, não se esquece de conferir cinco vezes se a porta está trancada, afinal de contas, sua vida já tem desgraças o suficiente, melhor evitar mais uma. Olha no relógio de pulso e sai correndo (literalmente). Tropeça e cai, machuca o joelho. Deveria desmoronar, mas não. Você é tão imbecil que sorri da própria desgraça. E continua caminhando naquela felicidade desesperada. "Bela porcaria, essa minha vida", você pensa. Mas só pensa. E o vazio dentro de você não diminui.
Agradeço de coração a todos vocês que têm acompanhado o Ninho de Gato, mesmo com a demora nas postagens. Não me levem a mal, mas a vida às vezes nos suga o tempo que destinamos para fazer as coisas que realmente gostamos. Esse é o curso natural das coisas, mas a gente sempre arranja um tempinho. Beijocas, crianças, miau!