domingo, 19 de fevereiro de 2012

Sem moral (o vazio nunca diminui)



Você chega em casa cansado do trabalho e liga a TV pra relaxar. Tá passando o jornal, você assiste. Durante o jornal, são apresentadas inúmeras notícias ruins: fome, miséria, desastres naturais, impostos mais caros, violência, revoltas populares, injustiças... e no final, como a cereja deliciosa por cima do bolo sem gosto, é apresentada uma notícia sobre futebol. Seu time venceu mais um jogo. "Êba", você diz. Mas o vazio dentro de você não diminui.
Daí você decide ver um filme pra fugir um pouco da realidade, um romance. E descobre que o final é uma tragédia: a mocinha morre, o mocinho fica velho e sozinho. A música triste durante os créditos ao final do filme faz você querer morrer, mas você não se dá por vencido.
Levanta do sofá e vai até a cozinha, na esperança de encontrar qualquer besteira pra comer. Doce ilusão, não tem nada. Nada que você queira. E talvez essa comida nem exista no mundo real, mas na sua cabeça existe... e o seu estômago quer. Você desiste, volta para o sofá com cara de derrota e se sentindo a pessoa mais inútil da face da terra. E a fome faz o buraco dentro de você crescer consideravelmente, agora fazendo mais sentido e doendo de verdade.
Você olha pro relógio desanimado, são quinze para a meia-noite e você não tem forças para caminhar até o quarto. Solução: você dorme no sofá mesmo. Suado, cansado, torto e descoberto. Acorda atrasado, dolorido e babado, toma um banho gelado pra acordar direito e come a primeira coisa que encontra pela frente sem se importar com o mal que vai fazer lá dentro do seu estômago, porque "o que os olhos não vêem, o coração não sente".
Antes de sair, é claro, não se esquece de conferir cinco vezes se a porta está trancada, afinal de contas, sua vida já tem desgraças o suficiente, melhor evitar mais uma. Olha no relógio de pulso e sai correndo (literalmente). Tropeça e cai, machuca o joelho. Deveria desmoronar, mas não. Você é tão imbecil que sorri da própria desgraça. E continua caminhando naquela felicidade desesperada. "Bela porcaria, essa minha vida", você pensa. Mas só pensa. E o vazio dentro de você não diminui.

 Agradeço de coração a todos vocês que têm acompanhado o Ninho de Gato, mesmo com a demora nas postagens. Não me levem a mal, mas a vida às vezes nos suga o tempo que destinamos para fazer as coisas que realmente gostamos. Esse é o curso natural das coisas, mas a gente sempre arranja um tempinho. Beijocas, crianças, miau!

16 comentários:

  1. Muito realístico, chega a ser tragicômica a condição em que vivemos hoje. Uma pontada de felicidade é apenas uma distração, porque o vazio continua lá.
    Abraços

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    1. Oi Mateus!
      Tragicômico! É essa a palavra que resume a situação descrita no texto, você conseguiu extrair o núcleo da história. \o/
      Na verdade, o nosso vazio estará sempre lá. E pra alguns, talvez seja a única companhia.

      Obrigada pela visita, volte sempre!

      Beijocas!

      Ismália .

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  2. Eu penso que isto aconteça porque nós acabamos por nos permitir a nos focar neste vazio. Estamos em uma cultura muito mimimi, muito síndrome do coitadinho.
    O exemplo do tombo e do joelho ralado, para mim não significa o vazio, significa a superação. Vazio seria, entregar-se totalmente e não se levantar. Agora, mesmo de pé, se você optar por dar atenção mais a este vazio do que ao ato de levantar-se que você superou, mesmo toda ralada, é ser uma pessoa vitoriosa.
    Se existe algo que eu possa dizer que eu aprendi um pouco com a vida Ismália, é que se pode extrair a felicidade mesmo diante das coisas ruins que acontecem em nossas vidas.
    E isto, vemos com nossos próprios olhos nos sorrisos das crianças sem um fio de cabelo, fragilizadas pela quimioterapia, pelos hospitais do câncer, que nos dão esperança quando, em verdade, deveria ser o contrário e, realmente, eu me envergonho disto.

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    1. Oi Christian!
      Ultimamente o mundo não anda mais tão cor-de-rosa, né Chris, mas assim como você, eu também não acho que haja motivos pra desabar, visto que ainda existem coisas tão bonitas por aí.
      Convenhamos que às vezes acontecem tantas coisas ruins num mesmo dia que a nossa vontade é sentar no chão e chorar loucamente, mas ao invés disso, a gente simplesmente sorri. Talvez pra demonstrar o desejo da nossa mente de tornar aquele momento tão ruim numa situação mais agradável.
      E a gente dá mais atenção pras coisas ruins. Porque no meio de um momento difícil, fica meio complicado ver as coisas boas que estão acontecendo. Eu também fico envergonhada por isso, tô tentando mudar, vai ser melhor pra mim e pros outros ao meu redor, né. É chato ficar do lado de quem só vê as coisas ruins o tempo inteiro...

      Chris, obrigada pela sua visita aqui no Ninho de Gato, é sempre bom ler o que você tem a dizer. ;)

      Beijocas!

      Ismália .

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  3. Realmente é preciso ter muita inteligência emocional para não absorvermos tantas coisas ruins que a vida nos apresenta no cotidiano.

    É de fato tentar ver o lado bom das coisas. Quando não houver, então criaremos as coisas boas. Faremos tudo para que passem a existir. Nós, de certa forma, precisamos fazer com que as coisas aconteçam. Senão ficaremos achando que tudo "é assim mesmo"...

    Ah, obrigada pela visita lá no blog, viu? Adorei seu comentário... e sobre ele, concordo. É bem verdade que em goiás há algumas cidades bem movimentadas nessa época. Mas, no post, me referi somente à Goiânia. rs

    A pele que habito será assistido daqui a pouco, logo que eu terminar de responder as postagens. rrsrsrsrs

    Excelente feriado para vc! ;) Volte sempre...

    bjks JoicySorciere => Blog Umas e outras...

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    1. Oi Joicy!
      Está certíssima, tudo tem seu lado bom, por mais que a gente não consiga enxergar na hora. E fazer as coisas boas acontecerem é um bom começo pra desencanar dessas coisas ruins que são inevitáveis.

      Adorei seu blog, Joicy! Estarei lá mais vezes, pode ter certeza. ;)

      Obrigada, pra você também! ^^

      Beijocas,

      Ismália .

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  4. Miau! Oi Ismália, gostei muito da sua crônica, a sua forma literária é muito intensa!
    E muito obrigado por ter interagido comigo, no "Para tudo na vida há uma solução!", na minha opinião as pessoas interativas, são as mais interessantes, em todos os sentidos.
    Estarei te seguindo, para poder acompanhar melhor a sua percepção de vida, e absorver um pouco da sua relevante cultura.
    Muito obrigado por existir e compor as nossas vidas com os teus sentimentos!
    NAMASTÊ! P.S.: Reparei que você gosta muito dos gatinhos, eu também! A propósito, na ultima visita em meu blog, você fez algum carinho, no meu "gatinho virtual" chamado Jeikobinho?!?!?! rsrsrsrsrser Abraços e beijos estimados!

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    1. Oi Paulo!
      Gostei do seu blog. Aquele texto em particular me fez perceber umas coisas que eu andei fazendo errado, mas é errando que se aprende, né? :)

      Seja muito bem vindo ao Ninho de Gato, espero que goste daqui e que volte sempre.
      Eu adorei o gatinho, é uma gracinha *-*

      Beijocas e muito obrigada!

      Ismália .

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  5. Não se preocupe, Lalinha!
    Por mais que demores ainda terás leitores assíduos. :)

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    1. Oi Lara!
      Awwwn, florzinha, você é um doce!

      Obrigada por estar sempre aqui, viu? ♥

      Beijocas!

      Ismália .

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  6. O post parece descrever meu cotidiano, mas não, isso é tão somente porque este vazia existencial é generalizado... om maior ou menor intensidade, a verdade é que todos em alguns momentos o sentimos... Nos últimos dias eu tenho torcido para que o fim do mundo aconteça neste ano, sem atrasos, e conforme o previsto!

    http://sublimeirrealidade.blogspot.com/2012/02/o-espiao-que-sabia-demais.html

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    1. Olá Bruno!
      Todos nós temos um vazio interior e procuramos preenchê-lo com o que nos faz bem.
      Eu também fico pensando que o mundo precisa acabar mesmo porque as próprias pessoas tornaram o mundo um lugar quase insuportável de se viver, mas depois eu vejo que ainda existem coisas boas, pessoas boas, ainda há esperança. o/

      Obrigada pela visita, volte sempre!

      Beijocas!

      Ismália .

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  7. Gostei do texto. Resume bem a vida do cidadão comum. É interessante analisar intens do cotidiano que não seriam tão comuns, salvo apenas pelo fato de que na maioria das vezes é isso que vivemos. Acho que quando passamos à compreender cada acontecimento que ocorre em nossa existência, esse vazio passa a diminuir, dando lugar à outro vazio, maior ainda, criado pelas dúvidas proeminentes das respostas sobre as primeiras dúvidas. É um ciclo que só vai acabar junto com a humanidade. (:

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    1. Oi Ismaelito!
      Onde é que eu clico pra curtir seu comentário loucamente?
      Às vezes eu não entendo porquê você não vem aqui, é a única pessoa da família que eu permito ler meus textos porque sei que não vai pensar que eu ando me drogando e tal auaiauhuihauiahiah
      E quando comenta me deixa babando. u_u

      Obrigada por ter comentado, mesmo apesar da pressão. :)

      Beijocas, coisinha bonitinha e fofinha da Lalinha. <3

      Eu tinhãmu.

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  8. Oie minha amiga que texto rico em informações ' da realidade direta e crua.
    Gostei de ver!
    Beijus
    Fica com Deus
    òtimo FINAL DE SEMANAA♥

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    1. Oi Aline!
      Pois é, flor, a realidade é meio dura, mas faz a gente acordar. :)

      Beijocas e um ótimo restinho de final de semana pra ti. ♥

      Ismália .

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Olá filhotinhos! Esse ninho não é só meu, são vocês é que fazem dele um lugar agradável e divertido. Podem miar à vontade! Ah, comentou aqui, respondo aqui! Beijões! Miauuuuu!